IGNORÂNCIA, MÁ EDUCAÇÃO OU EGOCENTRISMO?
por Manoel Bertoncini
Parece
epidemia. Cada dia que passa fico mais apavorado. As pessoas perderam total
noção. É no salão paroquial, na
TV, no rádio, no Congresso Nacional, em várias propagandas deseducativas como a
última da Coca-Cola, enfim, por toda parte. Tem-se a impressão que ninguém se
dá mais conta da gafe.
Acho até que, ao lerem este pequeno
artigo, alguns vão ficar totalmente surpresos, o que me
deixa mais triste ainda.
É que sou de uma época em que se
ensinava, em casa, na escola e na sociedade culta – e se praticava – que, numa relação
de pessoas em que nosso nome estivesse no meio, ele vinha sempre em último
lugar.
Exemplos:
Minha mãe, meu pai e eu saímos à procura de nosso animal de
estimação.
Ou, meus colegas de aula e eu fizemos uma linda homenagem aos
professores.
Nunca:
EU, minha mãe e meu pai saímos à procura de nosso animal de
estimação.
Tampouco:
eu e meus colegas de aula fizemos uma linda homenagem aos
professores.
O desconhecimento dessa forma de
utilização do pronome pessoal do caso reto, primeira pessoa do singular, EU, sugere, ao meu entender, que
desconhecíamos por completo o uso correto desse pronome, e, então, estaríamos
diante de pura ignorância, ou, que
fomos educados sem nunca termos sido chamados à atenção sobre isso por parte de
nossos pais ou professores, então estaríamos diante de uma má
educação, ou, finalmente, que, deliberada ou inconscientemente, colocamos
nossa pessoa sempre em primeiro lugar, e, aí, estaríamos diante de puro egocentrismo ou egoísmo.
Tenho a impressão que essa cultura
veio com os ensinamentos cristãos, e uma das lembranças é daquela advertência
de Cristo:
Quando fores convidado para um banquete, não te sentes no primeiro
lugar, porque pode ser que o dono da casa, vendo chegar um convidado mais
importante, vá até ti pedir que te sentes mais nos fundos, e tu ficarás
envergonhado. Antes, procura te sentares mais nos fundos para que, o dono da
casa, percebendo isso, vá ao teu encontro e te peça para sentares mais à
frente.
Ora, não deixa de ser simples regra
de conduta, mas muito apropriada àqueles que sempre querem aparecer, ou, ainda,
que acham que seu nome deve estar sempre antes dos outros. Puro egoísmo.
Se formos à procura da virtude,
veremos que todos os santos, indistintamente, possuíam grande dose de
HUMILDADE. E é ela que se contrapõe frontalmente à SOBERBA, pecado capital que
levou Lúcifer a se rebelar contra Deus, e, mais tarde, a levar Adão e Eva a
perderem o paraíso, induzindo-os a pensarem que seriam iguais a Deus se
comessem do fruto proibido (naturalmente guardada a linguagem figurada).
Seja por quaisquer das razões -
ignorância, má educação ou egocentrismo – procuremos ensinar a nossos filhos e
alunos o correto uso do pronome EU sempre que incluirmos nosso nome numa
relação de pessoas, pois assim estaremos demonstrando tanto uma boa educação
quanto a fineza no trato das pessoas e, quiçá, praticando a virtude da
humildade.