quarta-feira, 22 de julho de 2015


IGNORÂNCIA, MÁ EDUCAÇÃO OU EGOCENTRISMO?

por Manoel Bertoncini



Parece epidemia. Cada dia que passa fico mais apavorado. As pessoas perderam total noção. É no salão paroquial, na TV, no rádio, no Congresso Nacional, em várias propagandas deseducativas como a última da Coca-Cola, enfim, por toda parte. Tem-se a impressão que ninguém se dá mais conta da gafe.

Acho até que, ao lerem este pequeno artigo, alguns vão ficar totalmente surpresos, o que me deixa mais triste ainda.

É que sou de uma época em que se ensinava, em casa, na escola e na sociedade culta – e se praticava – que, numa relação de pessoas em que nosso nome estivesse no meio, ele vinha sempre em último lugar.

Exemplos: 
Minha mãe, meu pai e eu saímos à procura de nosso animal de estimação.
Ou, meus colegas de aula e eu fizemos uma linda homenagem aos professores.

Nunca: 
EU, minha mãe e meu pai saímos à procura de nosso animal de estimação.
Tampouco: 
eu e meus colegas de aula fizemos uma linda homenagem aos professores.

O desconhecimento dessa forma de utilização do pronome pessoal do caso reto, primeira pessoa do singular, EU, sugere, ao meu entender, que desconhecíamos por completo o uso correto desse pronome, e, então, estaríamos diante de pura ignorância, ou, que fomos educados sem nunca termos sido chamados à atenção sobre isso por parte de nossos pais ou professores, então estaríamos diante  de uma má educação, ou, finalmente, que, deliberada ou inconscientemente, colocamos nossa pessoa sempre em primeiro lugar, e, aí, estaríamos diante de puro egocentrismo ou egoísmo.

Tenho a impressão que essa cultura veio com os ensinamentos cristãos, e uma das lembranças é daquela advertência de Cristo: 

Quando fores convidado para um banquete, não te sentes no primeiro lugar, porque pode ser que o dono da casa, vendo chegar um convidado mais importante, vá até ti pedir que te sentes mais nos fundos, e tu ficarás envergonhado. Antes, procura te sentares mais nos fundos para que, o dono da casa, percebendo isso, vá ao teu encontro e te peça para sentares mais à frente.

Ora, não deixa de ser simples regra de conduta, mas muito apropriada àqueles que sempre querem aparecer, ou, ainda, que acham que seu nome deve estar sempre antes dos outros. Puro egoísmo.

Se formos à procura da virtude, veremos que todos os santos, indistintamente, possuíam grande dose de HUMILDADE. E é ela que se contrapõe frontalmente à SOBERBA, pecado capital que levou Lúcifer a se rebelar contra Deus, e, mais tarde, a levar Adão e Eva a perderem o paraíso, induzindo-os a pensarem que seriam iguais a Deus se comessem do fruto proibido (naturalmente guardada a linguagem figurada).


Seja por quaisquer das razões - ignorância, má educação ou egocentrismo – procuremos ensinar a nossos filhos e alunos o correto uso do pronome EU sempre que incluirmos nosso nome numa relação de pessoas, pois assim estaremos demonstrando tanto uma boa educação quanto a fineza no trato das pessoas e, quiçá, praticando a virtude da humildade.

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